Navegando pelas redes sociais, deparei-me com um vídeo de uma pessoa respondendo ao questionamento sobre sua nacionalidade – aquela famosa pergunta: “Você é brasileira mesmo?”. Para contextualizar, a pessoa em questão é filha de sul-coreanos, mas não nasceu na Coreia e foi criada no Brasil. Ela respondeu de forma breve, mostrando que, constitucionalmente, é de fato brasileira. No entanto, fiquei refletindo: será que ela compreendeu a profundidade por trás dessa pergunta, ou apenas preferiu não prolongar o assunto? De qualquer forma, essa situação serve como pano de fundo para a discussão que quero trazer.
Pelo que percebo, quando alguém com traços estrangeiros é questionado se é “brasileiro de verdade” – mesmo que comprove sua nacionalidade –, a indagação vai além do aspecto jurídico. Trata-se de uma questão sentimental, ligada às raízes culturais e ao vínculo afetivo que nos define enquanto sociedade. Música, costumes, memórias de infância… tudo isso faz parte da formação cultural brasileira.
Mas então me deparo com o cerne do problema: por que esse questionamento surge apenas com pessoas de fenótipos asiáticos, e não com aquelas de traços europeus? Vivemos no país mais miscigenado do mundo, ou seja, não temos uma hegemonia étnica que justifique esse estranhamento com determinadas aparências. É aqui que encontramos um preconceito ainda pouco discutido: o racismo contra asiáticos (ou “racismo amarelo”).
Asiáticos – especialmente chineses, japoneses e coreanos – são constantemente vistos como “estrangeiros eternos” no Brasil. Suas origens são frequentemente questionadas, e muitos ainda são alvo de piadas estereotipadas – herança de um passado marcado pela dificuldade de adaptação linguística, como no caso da imigração japonesa pós-Segunda Guerra.
Diante disso, pergunto: por que asiáticos e seus descendentes precisam constantemente provar seu pertencimento, enquanto outros grupos não são submetidos ao mesmo questionamento? No fim das contas, o que define, afinal, a identidade brasileira?
Simplifiquei ao máximo um debate tem raízes extensas e não me adentrareis muito por aqui. Meu intuito era instigar o assunto, mas irei deixar alguns conteúdos importantes para serem estudados e consumidos para maior entendimento do assunto.
Algumas leituras:
O “Perigo Amarelo” nos dias atuais – Org. Hugo Katsuo
Corações Sujos – Fernando Morais
Perfis para seguir: (clique nos nomes para explorar mais)
Bruna Tukamoto – fala sobre cultura nipo-brasileira, noticias e debates sobre cultura amarela.
Amarelitude – reflexões sobre racializacao amarela
Notícias Amarelas – página de notícias sobre questoes amarelas e antirracistas
Laura Satoe Ueno – psicóloga, doutora em psicologia social e pesquisadora de relações étnico-raciais, gênero e saude mental.
Tambem deixarei alguns videos com participações de artistas amarelas falando sobre o tema. A atriz Ana Hikari é ativa em suas redes sociais e programas por sempre trazer a pauta do racismo amarelo.
O youtuber Leo Hwan levantou essa questão há alguns anos nesse vídeo abaixo:
A importância do debate nos meios acadêmicos
Trouxe essa questão aqui pelo meu compromisso como psicóloga e pesquisadora de assuntos étnicos-raciais uma assunto que se perde no meio de um tema importante como o racismo. É de extrema importância entendermos a variedade de forma de violência na população brasileira diante dos ideais criados sobre nacionalidade e pertencimento. Não podemos deixar de lado que o Brasil se construiu sob um projeto eugenista de raça e exploração.